quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Após ouvir da mãe que não teria futuro, Iris Tang Sing está perto de vaga na Rio-2016 no Taekwondo

“Você não chegará a lugar algum”. As duras palavras foram como um soco no estômago de Iris Tang Sing. Não apenas pelo pessimismo, mas porque foram ditas pela própria mãe. Criada no bairro humilde de Porto das Caixas, em Itaboraí, a menina gostava de lutas e foi apresentada ao taekwondo aos 11 anos. Ali, traçou o seu futuro. Sem apoio dos pais, que a recriminavam por se dedicar ao esporte, ela não desistiu do sonho de ser atleta e derrubou barreiras e preconceitos. Ao evitar ser mais uma mãe adolescente - o que aconteceu com várias colegas de infância - ela, aos 25 anos, está prestes a garantir vaga nas Olimpíadas do Rio em 2016. A história da jovem fecha a série “Luta pela Vida”.
— O início não foi fácil. A minha mãe sempre dizia que esporte não dava dinheiro, que era coisa de bunda mole, vagabunda, que não dava futuro. Ouvi isso todos os dias — falou a atleta da categoria até 46kg. — Mas não desisti, graças ao meu técnico Diego, e hoje estou aqui. Vou mudar a cabeça das pessoas em relação ao taekwondo e ao esporte.
Além da falta de apoio da família, Iris batalhou para conseguir dinheiro e viajar. Sem patrocínio, sem recursos e com a necessidade de competir fora para ganhar experiência, a atleta fez rifa, pediu dinheiro aos vizinhos e bateu na porta da prefeitura. Mesmo sem local para treinar — sem a academia, que fechou, usava uma garagem aberta para afiar os golpes —, ela insistiu até ganhar a bolsa atleta e a situação melhorar.
— Sem patrocínio, num bairro pequeno e humilde, bem no interior, as pessoas não têm noção de esporte, de nada. Ia de porta em porta arrecadar dinheiro, pedia para minha avó, minhas tias... Minha vida melhorou só em 2010, quando consegui a bolsa atleta e um ano depois entrei para o Exército — disse.

Se não tivesse agarrado a chance de ser atleta, Iris poderia ter outro destino hoje. Muitas de suas amigas, ex-companheiras de treino, foram mães ainda adolescentes e estão com muitos filhos.
— Eu vejo as amigas que treinavam comigo com três, quatro filhos grandes. Não sei se esse poderia ter sido o meu destino. Mas não sei o que seria de mim sem o esporte. Minha mãe não tinha condições financeiras para pagar uma faculdade, não me ajudaria e seria muito complicado. Hoje, me sinto diferente, tenho outra cabeça e vivo outra realidade — afirmou.
Em quinto no ranking mundial, Iris precisa se manter no top seis até dezembro para se garantir por conta própria. No GP de taekwondo com as oito melhores lutadores, 80 pontos estarão em disputa, e cada um deles são preciosos.
— Estou com 70% de certeza que vou conseguir essa vaga, e sei que vai parar a cidade quando acontecer. Meu sonho é estar na Rio-2016, e só percebi isso há dois anos. Significa superação, determinação, sacrifício e merecimento. Tudo que fiz será recompensado. Hoje, sei que é possível ganhar uma medalha — afirmou.
Na comunidade de Iris há um projeto social mantido pela Prefeitura de Itaboraí, onde a atleta dá aulas de taekwondo para crianças e adolescentes. Em comunidades carentes e favelas, os projetos sociais sempre ajudam na formação de jovens.

No Rio de Janeiro, o Instituto Phi ajuda, há pouco mais de um ano, pessoas físicas e jurídicas a investir em Organizações Não-Governamentais (ONGs) que buscam melhorias sociais, principalmente no esporte.
- O esporte é uma ferramenta muito poderosa no desenvolvimento de crianças e jovens em situação de risco. Além das capacidades físicas, ele estimula a disciplina, a sociabilidade, a solidariedade, a concentração e a auto-estima. Vemos o resultado em casa, na escola e no crescimento social daquele jovem. Além das vitórias pessoais diárias, em rotinas muitas vezes violentas e carentes material e emocionalmente, a inclusão social pelo esporte ainda pode formar campeões - afirmou a diretora do Instituto Phi, Luiza Serpa.
Iris concorda que o esporte é capaz de mudar vidas, como aconteceu com ela.
- Eu tenho um projeto social aqui porque quero servir de exemplo para essas crianças, para que elas vejam que o esporte dá sim futuro e que ajuda muito na nossa vida. Se hoje estou construindo a minha casa, bancando tranquilamente as minhas viagens, foi com o sacrifício e o suor no esporte - disse a lutadora.


Fonte: EXTRA 28/09/15 14:13

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